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Leituras de março (muito atrasadas, eu sei!)

  • Writer: Clara Goncalves
    Clara Goncalves
  • Apr 16, 2024
  • 5 min read

Updated: Apr 17, 2024

Eu esqueci completamente de escrever nas últimas duas semanas, por isso o atraso absurdo neste post. Março, assim como fevereiro, foi um bom mês para as minhas leituras. Espero que tenha algo aqui que te inspire a ler mais em abril! Para ver as leituras dos outros meses, clique aqui, aqui e aqui. Vamos direto ao assunto, em ordem reversa de leitura:


Assombrações, de Domenico Starnone


Mais um livro que não foi exatamente uma escolha minha, mas sim do clube do livro do qual participo desde fevereiro. Foi uma leitura inquietante, cheia de camadas psicológicas e alegorias que despertaram o meu interesse, tanto que li o livro em pouco mais que dois dias. Mas não foi exatamente uma leitura que tenha me impactado muito. Ao ler de maneira solitária, achei a experiência literária ótima, mas este não foi um livro que tenha despertado algo especial em mim como tantos outros em 2024. Isso mudou depois da discussão em grupo no clube do livro, o que realmente me deixou impactada. Como discutir assuntos coletivamente pode abrir possibilidades de interpretação e transformar completamente a nossa experiência com uma obra! Adorei ver a evolução de Assombrações perante os meus olhos, e é um livro que eu recomendo muito, ainda mais se você tiver com quem debatê-lo.


Agora voltando ao ponto do livro. Assim como a minha única leitura prévia de Starnone, que foi Laços, Assombrações é uma trama sobre relações de família, projeção, conflitos geracionais e, ultimamente, a solidão. Danielle, um prestigiado ilustrador napolitano, mora isolado no norte da Itália quando é convocado pela filha para cuidar do neto enquanto ela se divide entre questões matrimoniais e profissionais. O velho ilustrador se recuperava de problemas de saúde e lidava com a sensação de que o tempo de prosperidade e sucesso estava ficando para trás. Ao passar dias cuidando do neto de quatro anos na casa em que ele próprio cresceu, Danielle é confrontado com fantasmas do passado e com as assombrações do presente. A relação com o neto revela impulsos violentos que muito me lembraram de um livro que eu li em fevereiro, A Cachorra, de Pilar Quintana.


Trata-se de um jogo de espelhos entre neto e avô. Um no começo da vida, outro no fim. Um puro potencial, outro lidando com arrependimentos e limitações. É uma trama familiar interessantíssima, ainda mais por retratar um universo psicológico masculino que eu pouco visito através da literatura. Starnone, assim como Elena Ferrante, a quem costuma ser ligado pela mídia italiana, é mestre em centralizar relações de família e seus aspectos violentos, assim como também trata a cidade e o dialeto napolitano como personagens de destaque.


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O Estrangeiro, de Albert Camus


Ah, Camus, um rapaz tão positivo (ironicamente falando). E genial (nada ironicamente!).

O estrangeiro é uma leitura rápida, são menos de 200 páginas, e você é magicamente transportado para o universo mental de Camus, escritor e filósofo franco-argelino que teve enorme impacto no pensamento mundial no período pós-guerra, e cuja obra lhe rendeu um Prêmio Nobel de Literatura em 1957. O estrangeiro, um dos livros da trilogia do absurdo, conta a história do jovem Meursault, que vive a vida a partir da indiferença. Assim, o livro divide-se em dois "atos", e o inaugural é a morte da mãe do protagonista. Diante do fim da vida da genitora, Meursault segue a vida normalmente -- encontra amigos, vai ao cinema, transa, vai à praia. Até que, um dia, ao encontrar com o desafeto de um amigo, ele toma uma atitude que impactaria definitivamente a sua vida. O segundo ato é o julgamento de Meursault, que passa a responder pelo crime mas, também, pela sua indiferença perante a morte da mãe.


A parte mais brilhante de O estrangeiro é que o estilo de escrita acompanha o vazio existencial do protagonista. Você segue, página após página, acompanhando uma sequência de ações que parecem não ter sentido ou objetivo, assim como é a própria vida de Meursault. E, conforme se avança, compreende-se que, a partir da ausência total de sentido, pode-se dar o sentido que você quiser ao que for. Isso fica muito claro no julgamento do protagonista. Embora curta, esta foi uma leitura pesada para mim, de certa maneira. Entrei profundamente na cabeça do protagonista e, por alguns dias, fui tomada pela mesma indiferença. Por sorte, sem cometer nenhum crime.


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Esta é a cópia de minha mãe, do ano de 1981, quando eu nem sonhava em nascer.


A Natureza da Mordida, de Carla Madeira


Este foi disparado o melhor do mês para mim. Talvez o melhor de Carla Madeira, na minha concepção, e também, de longe, o mais perturbador. Ao terminar a leitura, só conseguia pensar: "Puta-que-pariu!!!!!!!!".Fiquei um pouco traumatizada? Fiquei. Valeu a pena? Demais!


O livro se inicia a partir do encontro entre Olivia, uma jovem jornalista que lida com um trauma recente, e Biá, uma psicanalista aposentada e apaixonada por literatura. É a literatura que permite o encontro entre ambas em um sebo. Elas se conectam enquanto passam por turbulências e dividem experiências e, a partir dos encontros entre as duas, entendemos como a "natureza da mordida" se revelou nas suas trajetórias . As vozes de Olívia e Biá se alternam; ora acompanhamos os eventos a partir da visão de Olívia, ora através dos olhos de Biá. 


Carla Madeira tem uma capacidade de escrita que talvez só seja comparável aos maiores nomes da literatura. Suas personagens saem das páginas, pulam para o seu lado e conversam com você olho no olho. Não sei que parte do cérebro Madeira é capaz de atingir com as suas palavras, mas a mágica que exerce deve ser capaz de iluminar cada lobo da nossa máquina mais potente. 


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Conversas entre amigos, de Sally Rooney


Esse eu achei chato. Sally não conseguiu me conquistar como eu imaginava. Eu já havia lido Pessoas Normais anteriormente e gostei da leitura, apesar de demorar a ser conquistada. Mas Conversas entre amigos me entediou do início ao fim. As personagens me pareceram todas sofríveis, rasas, mimadas. Não consegui me identificar por mais de um minuto com as suas questões.


Em resumo, o livro é centralizado em Frances, uma estudante irlandesa que vive em Dublin e a sua ex-namorada-e-melhor-amiga, Bobbi. Quando, durante uma leitura das poesias de Frances, elas conhecem o casal Melissa e Nick, as relações começam a se transformar profundamente. Enquanto Frances e Bobbi vivem os seus vinte e poucos anos, Melissa e Nick têm mais de 30 e passam por uma crise no casamento. Entre os quatro, uma teia de traições e mentiras começa a se formar. Acompanhamos o desenrolar da história pela perspectiva de Frances que, sinceramente, é insuportável e parece só escolher relacionamentos tóxicos para poder sentir alguma coisa na sua existência. Achei a personagem chata, e os seus amigos também.


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