Sobre o tempo, crises existenciais e a série 'A Nova Vida de Toby'
- Clara Goncalves
- Jan 9, 2024
- 2 min read
Passei os últimos dias assistindo à uma série maravilhosa que muito recomento: A Nova Vida de Toby, disponível na Star+. A série, repleta de estrelas como Claire Danes, Jesse Eisenberg, Lizzy Caplan e Adam Brody, é centrada no divórcio de Toby e a super-bem-sucedida Rachel, interpretada por Claire Danes.
Além de retratar as dificuldades que cercam o divórcio e o abandono, vemos um grupo de pessoas com quarenta e poucos anos lidando com um emaranhado de reflexões existenciais que me lembraram muito as minhas próprias questões em uma versão ainda mais adulta. A escolha pelo casamento, os filhos, as responsabilidades, a perda de perspectiva e ambição. Tudo me pareceu muito familiar, e muito alienígena também. Foi como olhar para o futuro e pensar “caramba, será que um dia viverei fora desse estado constante de crises existenciais ou esse é o default daqui para frente?"
Também vemos os impactos que as escolhas podem ter naqueles que dependem dos adultos, representados pelos filhos de Toby, e que também vivem os seus dramas pré-adolescentes como a necessidade de aceitação e a descoberta da sexualidade. Uma frase que muito me marcou é dita em uma cena em que Toby refletia sobre as dificuldades enfrentadas pelas crianças: “crescer é nojento".
É mesmo. Encarar a realidade, aos 12 ou aos 41, é terrível. Ter que lidar com os outros, com a falta de controle, com a feiúra que podemos encontrar no mundo exterior é, realmente, tenebroso. A gente não vive em crise à toa. Quando se é uma menina adolescente, pode ser que você se depare com um babaca que vaze fotos íntimas suas e não seja punido por isso. Quando se é um médico de 40, você corre o risco de perder oportunidades de trabalho porque precisou cuidar dos seus filhos. E quando se é uma mulher que não teve a oportunidade de lidar com um abuso terrível, é possível que você tenha um colapso nervoso e não encontre um amigo que te dê suporte. Crescer… é nojento.
A série é narrada por Libby, melhor amiga de Toby, que também enfrenta os seus próprios demônios. Enquanto Toby lida com o desaparecimento da sua ex-mulher, Libby, uma jornalista sem emprego, se vê vivendo uma vida comum no subúrbio americano: casada, cuidando dos filhos e da casa. Com o reaparecimento do amigo na sua vida depois do divórcio, ela passa a questionar as próprias decisões e a fantasiar uma vida em que ainda fosse puro potencial, em vez de um fracasso. Ao mesmo tempo, aos olhos de Toby, a vida de Libby parece perfeita. Tudo que ele queria era ter uma família como a dela. Parece que esta é a condição humana, afinal. Desejar o que não se tem. Tudo aquilo que se conquista, uma hora ou outra, nos parece insuficiente.
Há poucos dias escrevia sobre desejos. Concluí meu texto com a ideia de que o importante na vida é desejar, o que quer que seja. A Nova Vida de Toby parece confirmar a minha teoria, mas adiciona uma nova questão: desejar é o que nos move, mas pode ser também o que nos paralisa.
O tempo e suas diferentes crises...





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