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Planos, Planos, Enganos

  • Writer: Clara Goncalves
    Clara Goncalves
  • Aug 6, 2023
  • 3 min read

Não deve ter nem um mês do último dia em que senti uma enorme paz. Paz de pensar que estava num bom caminho, fazendo algo que poderia me levar a algum lugar que me traria felicidade. Há poucas semanas, tomei decisões divertidas, tracei planos de viagens, de investimento e me senti realmente contente com o rumo que a vida tomava. Compartilhei (alguns) planos, para que se tornassem realidade, mas é claro que nada aconteceu como eu então imaginava. Como diria a grande filósofa Khloe Kardashian, se quer fazer Deus rir, conte-lhe os seus planos (ou algo nessa linha).


E agora cá estou, um pouco frustrada mas ao menos tranquila, catando os caquinhos dos planos passados para construir planos futuros. Domingos bonitos como hoje costumam ser dias de epifanias, seguidas pela necessidade de pensar em estratégias e abraçar a mim mesma para me acalmar. Neste domingo, sinto que estou começando a colocar a cabeça para fora de uma crise de anos. Tenho medo de dizer algo assim e evocar uma força obscura que me puxe de volta para as trevas. Mas, realmente, sinto que por mais porradas que ainda sofra, a cada soco, volto um pouco mais firme.


Em dias de calmaria, tenho olhado para dentro numa tentativa de me acolher. Olho para as minhas versões passadas como tento fazer com amigas queridas e quase sinto pena pelo que ainda estaria por vir. Sinto o mesmo em relação ao meu eu de um mês atrás, que separava dinheiro para viagens e passeios turísticos no segundo semestre, sem saber que o meu pequeno cachorrinho - e amor da minha vida - estaria prestes a viver mais uma crise em sua curta vida de 2 anos e meio.


Minha Nina tem crises estranhas de seis em seis meses. Já pensei que fosse doença do carrapato, leishmaniose, alguma pereba gástrica. A cada crise, os sintomas pioram. Nessa última, ela ficou sem andar por dias. Foram dias terríveis em que ela precisava de mim para tudo, até beber água, comer e fazer xixi. A cada faxina (e eram muitas), a cada reunião de trabalho que precisei interromper (também algumas), chorei copiosamente. Depois de muitas consultas, exames e medicamentos, ela está melhor. Ainda falta chão, mas temos um quase-diagnóstico fechado e ela voltou a andar e a recuperar sua alegria. Mas que coisa triste um cachorrinho com dor! E que coisa triste é se perceber mais velho, mais sensível do que nunca e totalmente engatilhado. Parece que um sopro na direção errada é capaz de trazer à tona traumas de décadas atrás.


Enfim, de volta ao ponto: é uma delícia fazer planos. Eu adoro me sentir organizada, me iludir sobre ter algum controle sobre o que quero e posso ter para a minha vida. Mas a realidade é que é tudo muito aleatório, e eu acho que dei muita sorte no grande esquema das coisas. Rir no fim do dia e catar os caquinhos para construir novos mosaicos é a minha dica para mim mesma de que estou nadando, e não me afogando.


Sei que o dia que se encerra me impulsiona a escrever para que não cisme com mais uma noite de planos irrealizáveis para compensar a recente quebra do meu controle. O meu eu nāo analisado tentaria fazer isso, retomar o poder, colocar o que fosse possível no papel. Mas se posso ser honesta, comigo e com os outros, esse padrão não tem me trazido felicidade. Aliás, nenhum dos meus padrões têm realmente funcionado. Repito minhas rotinas, minhas manias, minhas prisões porque não há nada mais confortável do que a previsibilidade, ainda mais quando a vida aleatoriamente se impõe diante da insignificância das vontades humanas. Reconheço que tenho, há anos, feito justamente o movimento contrário ao que intuo que seja a felicidade. Me recolho no meu casulo, minhas manias, meus planos. Me permito a felicidade dentro dessas linhas e me desespero quando, invariavelmente, essas linhas se borram. Pobre eu de um mês atrás, o que não precisaria viver para eu chegar aqui hoje.


Obrigada, tempo. Vamos em frente.



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