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Os 30 anos (e tudo aquilo que o meu eu de 20 anos não sabia)

  • Writer: Clara Goncalves
    Clara Goncalves
  • Mar 22, 2024
  • 4 min read

Embora este blog se chame os 28 — e eu não tenha a menor pretensão de mudar isso — muito recentemente eu deixei os meus vinte anos para trás. Acabou a grande década formativa, os anos de perrengues normalizados, os tempos em que o amanhã pouco importa. O meu eu pessimista sopra no meu ouvido um comentário de desaprovação cada vez que eu tento elaborar como me sinto agora, com 30 anos e três dias completos. Pego uma caneta, ou o meu laptop, e sou invadida pela sensação mais broxante da terra. Aquela que te olha da cabeça aos pés e resmunga algo como: “então é isso?”


Tenho tentado me livrar dessa voz desde que li várias entradas neste blog e me auto-diagnostiquei com base no meu pessimismo. Na terapia, ouvi que eu talvez devesse me prometer fazer uma coisa de cada vez e focar em uma ação prática. Pensei que talvez devesse fazer alguma atividade mais corporal, sair mais de casa, tenho ficado muito presa no meu mundinho. Já estou olhando opções e quero falar mais sobre isso aqui em breve. Outra recomendação que me deram foi fazer um balanço dos 20 anos. Afinal, aprendemos muito nessa época e conquistamos muitas coisas também, e é importante dar o devido valor aos louros e aos tropeços. Embora reclame, hoje, de estar muito presa ao meu mundinho, lembro que, aos 20, eu ansiava pela minha casinha e a possibilidade de mantê-la por conta própria. É essencial olhar por esses ângulos também: aqueles que te dão uma sensação de (algum) dever cumprido.


Nessa intenção, listo aqui algumas das coisas que aprendi sobre mim e sobre a vida agora que os trinta chegaram de vez (e tudo aquilo que eu havia entendido errado).


1 - O mundo não me deve nada


Os vinte e poucos anos, ao menos para mim, foram uma época em que eu prometia muito, e o mundo me prometia de volta. Na faculdade, o CR nunca caía abaixo de 9. Oportunidades de estágio não faltavam. Na virada dos 19 para os 20, dez anos atrás, eu passava por um processo seletivo para uma das maiores empresas do país. Vários gestores, se não me engano foram uns cinco, quiseram me entrevistar para vagas em diferentes departamentos nessa empresa. Eu pude escolher onde e para quem trabalhar aos 19 anos. Imagina o que isso não faz para o ego de alguém que sempre teve a ideia de valor atrelada à performance?


Comecei a acreditar que eu tinha um potencial enorme e que, aos trinta, seria uma figurona poderosa, independente, completa e feliz o tempo todo. E, aí eu caí na armadilha de que isso tudo era fato e não interpretação, e que o mundo me devia essa realidade sonhada. Eu só não levei em consideração que era apenas uma em sete bilhões. Ou que, a partir daquela época, o mundo enfrentaria umas duas crises gigantescas por ano (no mínimo) e que as minhas próprias ideias de valor e sucesso sofreriam alterações estruturais no processo. Aos 30, peço que por favor me escutem: o mundo não te deve absolutamente nada. Ninguém te deve nada, tampouco. Não espere que as coisas aconteçam para você apenas porque “você merece” porque isso não é sequer verdade, é apenas uma viagem ególatra muito comum aos vinte anos. Quer algo? Corra atrás, fale sobre isso para as pessoas certas, fique quieto perante as erradas. Se não, o que você deseja tanto pode nunca acontecer.


2 - as coisas não precisam ser tudo ou nada


Essa lição é uma constante na minha vida. Sinto uma enorme propensão, na minha pessoa, a simplesmente desistir de algo quando as circunstâncias não são perfeitas. Desde encontros em que, se não sinto uma atração arrebatadora de primeira, a minha vontade é simplesmente ir embora, até atividades profissionais onde, se não me sinto completamente amparada e preparada para exercer o que me é demandado, a vontade é pedir as contas e meter o pé. Mas aí vem a vida adulta, vem o aluguel, as contas que precisam ser pagas, sabe-se lá quantas pessoas podem depender de você… E meter o pé porque as coisas não vão às mil maravilhas deixa de ser tão viável. O que eu estou (tentando) aprender de uma vez por todas é: nada é perfeito. Tudo tem seu lado positivo, o negativo e a ideia é que pelo menos o meio seja OK. Cabe a nós pesar onde vale a pena estar, mas também se dar a oportunidade de melhorar algo em vez de descartá-lo de primeira. E isso quase nunca é apenas sobre coisas ou empregos.


3 - você muda, seus sonhos mudam: não se aprisione ao passado


Aos vinte anos eu tinha muita certeza do que queria ser. Aos trinta, eu não faço a menor ideia. E, se tem uma coisa que pode acabar com o meu dia, é me comparar ao meu próprio ideal de anos atrás. Há dez anos, eu era uma workaholic prepotente com uma ambição profissional do tamanho do Brasil. Aí a vida foi acontecendo e eu fui abandonando esses valores e ideias. Faz sentido, então, eu me frustrar por não ser uma diretora de um conglomerado de mídia internacional aos trinta anos? Nenhum. Assim como não faz sentido nenhum eu me frustrar por não ser uma bailarina, como o meu eu de dois anos queria, nem por não ser cantora de musical como o meu eu de 15 sonhava. A grande diferença entre os 20 e os 30? Aos 20, você é potencial puro. Tudo é possível. Aos 30, você já testou muitas coisas, e descartou muitas delas.


Acho que vou precisar de mais tempo para digerir aprendizados e compartilhá-los por aqui. Afinal, os trinta estão apenas no começo. Vou transformar isso aqui numa série a ser escrita ao longo do próximo ano. Quem sabem assim não aprendo alguma coisa?


foto de asfalto com o número 30 escrito em letras brancas

 
 
 

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