O que estou fazendo da minha vida?
- Clara Goncalves
- Feb 25, 2024
- 2 min read
Hoje acordei com uma sensação horrorosa de duvidar de tudo que eu tenho feito por mim e comigo nesta vida. Tenho notado diferentes facetas deste descontentamento há tempos, mas sinto que hoje atingi um ápice e foi logo de manhã, ao abrir os olhos e concluir que estava viva. Afinal, que diabos eu estou fazendo com o meu tempo nesse planeta?
Este foi um fim de semana um pouco ruim e que revelou ainda mais a minha necessidade pungente de mudança. No sábado, encontrei uma amiga querida. Apesar de amá-la profundamente, este encontro específico me fez mais mal que bem. Sabia que a havia desapontado ao não ir a um evento importante para ela e, ao perguntar sobre como ela se sentiu em relação àquilo a fim de me desculpar por não ter ido, acabei abrindo uma gaveta que talvez não devesse ter aberto. O que se revelou ali foi uma lista de decepções dela comigo e, embora entenda a tristeza da minha amiga, aquela cobrança me pareceu pesada demais para digerir. Esta carga me acompanhou o domingo todo. Como não queria piorar a situação e muito menos brigar, aceitei o que ela disse sem elaborar muito o outro lado da coisa, assim como também não verifiquei a conta e muito menos reclamei com o garçom sobre a cobrança excessivamente alta.
O domingo foi arrastado. Fazia um calor acachapante enquanto eu caminhava lentamente para a casa dos meus pais, onde deixei a minha cachorrinha no dia anterior. Ao chegar lá, a casa não estava com a alegria que costuma ter. Tentar ajudar desastrosamente a minha mãe a fazer o almoço numa cozinha que mais parecia uma sauna já seria difícil por si só, mas também havia uma sensação palpável de infelicidade generalizada. As razões variam desde o calor, passando por problemas de saúde debilitantes e irritações bestas. Eu não estava leve e meu dia não foi leve e talvez tenha sido só eu. Não tive forças para perguntar.
No fim do dia, já em casa de banho tomado, ainda com uma sensação de infelicidade imensa, encontrei a seguinte nota no meu computador:
Ando por aí sempre com a sensação de que adoraria pertencer. A este mundo, a um grupo, a alguém. Ando em modo automático, posso fechar os olhos e chego lá mesmo assim. Faço as mesmas coisas na mesma ordem todos os dias, todos os dias as mesmas demandas e todos os dias as mesmas rotinas. Às vezes sinto que não estou aqui. É como se eu estivesse desligada, alguém me tirou da tomada. Ando em modo avião e odeio voar. Ando em modo não presente. Se chamar, não vou escutar. Não sei como aterrissar, me ligar, estar aqui inteira. Sento comigo e fico. Um, dois, três dias se for preciso. Fico.





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