Leituras de Maio (atrasadas de novo :D)
- Clara Goncalves
- Jun 11, 2024
- 4 min read
Updated: Sep 23
Voltando aqui depois de um período silencioso por estar tentando escrever em outros formatos (e falhando, se posso ser sincera) para compartilhar o que eu li em Maio de 2024. Depois de um abril de muitas leituras intensas, eu resolvi ter um mês mais leve com as minhas leituras e me permiti apenas um livro mais emocionalmente desafiador. No fim das contas, descobri que gosto mesmo de me sentir completamente sugada pelas histórias dos outros. Leituras leves geralmente não me emocionam, mas preciso dizer que foram necessárias para desacelerar um pouco. E vamos aos livros em ordem de leitura:
A biblioteca dos sonhos secretos, de Michiko Aoyama
Resolvi começar o mês passado com uma leitura que me parecia ser fácil, mas acabei achando que este livro não é a minha praia. Ajudou a relaxar o cérebro e escapar um pouco do ciclo de notícias, mas não sei se recomendaria este livro para outra pessoa. Talvez alguém em plena ressaca de leitura, para que possa retomar o hábito com pouca intensidade. O livro da escritora japonesa Michiko Aoyama tem feito bastante sucesso, e conquistou uma nota 4,6 na Amazon, mas faltou um molho para me conquistar de verdade.
A biblioteca dos sonhos secretos conta cinco histórias diferentes que têm em comum a biblioteca do Centro Comunitário de Tóquio. Diferentes personagens que, de um jeito ou de outro, buscam algum tipo de ajuda encontram na misteriosa bibliotecária Sayuri Komachi um guia em seus caminhos. Sayuri pergunta a todos que cruzam o seu caminho o que eles procuram e recomenda livros inusitados, mas que se tornam verdadeiros agentes de mudança na vida dessas pessoas. Trata-se de uma leitura leve, mas também pouco profunda. Não a odiei, tampouco a amei.
A Trilogia de Copenhagen, de Tove Ditlevsen
Estava consciente sobre a existência deste livro havia mais de um ano quando resolvi me dedicar ao livro da autora Tove Ditlevsen. Entre uma leitura incrível e outra, Tove era citada por alguém que admiro, como Patti Smith, Rosa Montero e tantas outras grandes autoras. Ficou simplesmente impossível ignorá-la, por mais que eu tenha tentado por saber que se tratava se uma vida complexa (e completa!). Tive medo de ler mais um livro intenso que me ativasse uma centena de gatilhos. Ainda bem que parei com essa bobagem. A vida e a obra de Tove são incríveis e merecem ser conhecidas pelo maior número de pessoas possível.
Ditlevsen, apesar de não ser muito conhecida no Brasil, é uma das principais vozes da literatura dinamarquesa do século XX. Nesta trilogia, reúnem-se três volumes autobiográficos e somos levados à Infância de Tove, podendo acompanhar a história dos seus primeiros anos de vida em um bairro operário, o sonho de ser poeta e a complexa relação com a família, sobretudo com sua mãe. O segundo volume, Juventude, revela as suas primeiras experiências amorosas e sexuais, o começo da vida profissional e a consolidação dos seus planos literários. No volume final, Dependência, a vida pessoal de Tove é atropelada por uma crise de proporções gigantescas com o fim de casamentos conturbados, relações tóxicas, os filhos e o vício em opioides.
Lembrei, em diversos momentos, da Tetralogia Napolitana de Elena Ferrante. Tove parece ter vivido uma versão dinamarquesa do que Lenu viveu: a infância pobre, sem perspectivas num bairro operário em um período entre guerras; a libertação social e econômica através da literatura; a relação conturbada com homens e com o sucesso. Apesar da densidade, a Trilogia de Copenhagen é um livro que se permite devorar. Tove era uma escritora gigantesca. Que honra deve ser ler este livro em seu idioma original (e palmas para a tradutoa Heloisa Jahn pelo trabalho sublime!).
A irmã menor, de Mariana Enriquez
Fechei o mês com uma leitura curta sobre a escritora argentina Silvina Ocampo. Neste ensaio biográfico, a autora Mariana Enriquez revelou traços sobre a vida e obra de Silvina, assim como a cena político-cultural argentina do século XX. Fui atraída, sobretudo, pelo tema do livro: a obra de Silvina à sombra do tamanho e importância da sua irmã mais velha e mais famosa, Vitoria Ocampo. Pouco conhecia sobre esses nomes, mas a temática me atraiu de cara.
Filhas de uma família aristocrática, Silvina e Vitoria tinham mais de dez anos de diferença de idade. Enquanto uma viveu sob os holofotes, a outra viveu silenciosa e misteriosamente por muitos anos. Assim, surgiram mitos que cercam tanto a sua obra quanto a sua vida pessoal que até então haviam sido pouco discutidos de maneira aberta. Silvina era casada com o também escritor Adolfo Bioy Casares, com quem supostamente tinha uma relação aberta. Outras histórias como o seu suposto interesse por mulheres e as relações com a poeta Alejandra Pizarnik e a própria mãe de Bioy também marcaram a sua fama de figura pouco convencional para a época.
Mariana Enriquez entrevistou uma série de pessoas ligadas à família Ocampo e à Silvina e foi capaz de traçar um perfil interessantíssimo sobre uma das escritoras das mais expressivas do cenário do nosso país vizinho. Eu adorei conhecer mais sobre Silvina e mal posso esperar para ler a sua obra.





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