Encontros
- Clara Goncalves
- Jan 11, 2024
- 2 min read
Updated: Jan 16, 2024
Dia desses eu marquei de fazer as unhas. Eu costumava ser frequentadora assídua de salões, mas depois da pandemia acabei deixando esse hábito um pouco de lado. Aprendi a fazer as minhas unhas e as mantenho relativamente bem, mas gosto de ir de vez em quando ao salão para dar uma “limpa” e zerar a situação. Marquei pé e mão na hora do almoço com uma moça que ainda não conhecia, vou chamá-la de Pati. Na minha bolsa estavam a minha carteira, as chaves de casa e o meu querido Kindle. Meu plano era usar aquela horinha para mergulhar no livro que estou lendo no momento (Adultos, de Emma Jane Unsworth).
O salão é bonito, todo branco, e as meninas falam meio que sussurrando, o que eu acho chiquérrimo. Eu e Pati nos cumprimentamos e eu imediatamente pego o meu Kindle. Mas aí acontece algo muito raro — nós temos uma conexão ali entre o “que esmalte você vai usar na mão?” e "E no pé?”. Por algum motivo misterioso, eu gosto dela na hora. Acho que ela gosta de mim também, assim, de graça.
A minha hora de leitura virou uma hora de conversa. Mas não qualquer conversa. Falamos, ela mais do que eu, da profundidade que é a vida. Conversamos sobre luto, terapia, ansiedade, religião. Falamos de Deus, da pandemia, de vacinas e cursos técnicos. Talvez tenha sido uma troca de energia, ou quem sabe seja porque eu tenho nome da filha dela. Naquela hora de conversa, aprendi muito sobre aquele ser humano. Teve um momento ali em que precisamos segurar as lágrimas e substituí-las por umas risadinhas para conseguir seguir com os nossos dias. Admirei aquela moça pela sua capacidade de estar vulnerável, e pela sua força também.
É muito louco fazer o exercício de escuta com alguém que você não conhece. Pareceu, pela nossa conversa, que ela estava justamente precisando que alguém se dispusesse a ouvi-la. Pati passou pela perda de 3 pessoas que amava muito num intervalo de cinco anos. Enquanto vivia um divórcio, mudava de carreira e criva os filhos pequenos. Entre uma história e outra, ela me disse que não costumava falar muito sobre o passado, ou pensar nas perdas que tinha vivido nos últimos anos. Mas ali estávamos nós duas, falando sobre o passado e as tsunamis que invadiram a sua vida. As que invadiram a minha ficaram bem pequenas, e logo me calei de novo para ouvi-la um pouco mais.
No fim da nossa conversa, saí pensando que livro nenhum jamais se compararia aquilo. Conhecer gente é bom demais.





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