O que cuidar significa para você?

Foi assim que acabou a minha sessão de hoje na terapia. Como sempre, uma das mais significativas das sessões começou comigo pensando que nada demais poderia sair dali, afinal, nada havia acontecido na última semana. Mas não é assim que funciona a psicanálise, e certamente não é assim que funciona a mente humana.

A primeira coisa que me veio à mente foi 'perda'. Perder a mim mesma. Sinto que quando cuido de alguém preciso abrir mão de mim. Não consigo mais associar cuidar a sentimentos positivos porque cuidar me remete à falta de liberdade. À falta de espaço para mim mesma. Como se, cuidando, eu necessariamente precisasse abrir mão de mim, dos meus desejos, das minhas necessidades e de quem eu sou.

Que dureza. Logo eu, que vim do seio de uma família que cuida tão bem. De uma mãe que ama e comunica o seu amor a cada momento. De um pai que me buscaria às 3h da manhã no pior buraco do inferno se fosse necessário. Logo eu, que sempre cuidei, aprendi que para ter de volta a minha vida, precisava parar de cuidar.

Ao morar fora, cuidei apenas dos meus próprios desejos. Nas pouquíssimas vezes em que me permiti viver relações amorosas, fiz questão de cortar tudo ao primeiro sinal de dificuldade. Quando vou mal no trabalho, logo começo a buscar novas oportunidades para fugir da situação o quanto antes. Já cheguei a pedir demissão por medo de eventualmente falhar. Tudo bem que o estresse e a toxicidade do lugar contribuíram para a decisão.

No micro, eu falho miseravelmente em cuidar. Consigo oferecer cuidado ao que é grande, ao que representa algo para a sociedade, por exemplo, porque assim eu e os outros ficamos pequenos. Não somos tão complexos assim, somos microscópicos. No fim da sessão, peguei um pedaço de papel e cheguei ao seguinte fio de pensamento:

Pensar é me envolver.

Me envolver é me importar.

Me importar é cuidar.

Cuidar é perder.

Para todos verem: imagem mostra uma mulher de costas, com cabelos castanhos soltos, vestindo um blusão cinza em frente ao mar.