A Curva
- Clara Goncalves
- Feb 25, 2023
- 2 min read
Updated: Mar 8, 2023
Imagine que você está numa estrada reta, com apenas um rumo a ser seguido. Não falo sobre encruzilhadas aqui, não há uma bifurcação sequer. Apenas um único caminho, e você deveria estar confortável com a facilidade que é seguir nessa linha. Sorrateiramente, as vozes que ecoam na sua cabeça começam a sussurrar para você fazer uma curva o quanto antes. Mas é impossível! Há apenas um caminho a ser seguido nessa estrada, e você deve ir em frente. Por mais que deseje muito fazer a tal curva, isso não resultaria em nada bom: você capotaria mato adentro. O seu desejo não importa – fique em segurança!
Comecei o texto falando coisas que não fazem qualquer sentido. Deixe-me explicar: estou me recuperando de uma crise de identidade que me confundiu até a última camada da minha alma e me revelou o quão pouco eu conheço a mim mesma. Aos 28, não saber muito sobre mim me parecia uma tragédia. Mas, segundo as pessoas que eu tenho ouvido, está (quase) todo mundo perdido mesmo.
Diziam que crescer dói e eu nunca dei muita bola para essas frases feitas. Cresci uma menina independente, segura dos meus desejos. Bastou a vida adulta chegar para que eles fossem todos jogados fora, reciclados e perdessem totalmente a forma original. Aos 18, tinha uma ideia clara do que queria fazer, qual carreira seguir e o um propósito de vida tão óbvio que me irritava. Aos 28, que carreira eu tenho? Nenhuma. Que propósito eu tenho? Não sei. Quais são os meus desejos? Sinceramente: ganhar na mega sena e não pensar em nada nunca mais.
No meio da minha crise, comecei a ouvir uma nova voz sussurrando para mim: escreva. Escreva e não tenha medo de colocar isso para o mundo: faça a maldita curva! E daí se doer? Crescer dói e a alternativa não é muito interessante. Quero sair dessa estrada e criar um novo caminho.




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