1 ano de Os 28

Meu site amado fez um ano! Na verdade, criei este blog no dia 25 de fevereiro de 2023, durante uma crise do tamanho do Brasil na virada dos 28 para os 29 anos. Como uma boa pisciana, esqueci da data e só lembrei deste marco hoje, quase duas semanas depois. Foi por conta dessa crise, que na realidade foi um acúmulo de várias situações muito difíceis de enfrentar, que eu entendi duas coisas importantes:

1 - Precisava me permitir escrever. Sem medo, sem pressões e sem a expectativa de que isso teria uma qualidade digna de um Pulitzer.

2 - Que os vinte e oito anos foram um poderoso portal na minha vida. Fim de pandemia, risco de vida, mudança drástica de carreira, tensão pré menstrual. Tudo isso em um ano.

Hoje, penso que até os 25 anos somos todos meio criança. Nossos cérebros ainda estão se formando, a vida é excitante e marcada por novidades, e cabe correr riscos e não planejar a vida. Inclusive, é recomendado! De repente, entre os 26 os 29, não é mais tão recomendado assim. E estes acabam se tornando uns anos malucos em que você, tal qual um Pokemon, precisa evoluir na velocidade da luz para sobreviver no mundo enquanto um adulto. Justo você, que foi um total idiota até o ano passado.

Com 26 anos, fui promovida em uma empresa onde tinha a minha performance sempre muito celebrada. Saí definitivamente da casa dos meus pais e comecei a contemplar a ideia de adotar um cachorro. Tudo isso no primeiro ano de pandemia, ainda MUITO isolada e infeliz com toda aquela situação. Foi naquele ano que o portal começou a se abrir. De repente, não dava mais para ser apenas uma jovem egoísta que faz o que quer, como quer, quando quer.

Daquele ponto até a crise dos 28, vivi um acúmulo de situações inerentes a esta fase da vida. Mudei de carreira e fui confrontada, pela primeira vez, com a ideia de que talvez eu fosse ruim no que eu fazia. Passei semanas entre a minha casa e um quarto de hospital e quase perdi o meu irmão. Fiz uma mudança e a minha primeira obra. Precisei voltar à uma vida "normal" depois de anos em isolamento. Durante a pandemia, eu me sentia superior, de certa forma, pelo meu comportamento exemplar. Depois dela, notei que não era superior em nada. E, pior, não tinha mais uma razão para me isolar embora, emocionalmente, continuasse a fazer justamente isso.

Em fevereiro de 2023, houve um cataclisma — eu simplesmente não conseguia mais suportar a ideia de continuar vivendo como eu estava. Tudo que eu pensava que eu era deixou de fazer sentido para mim. Tinha dias que eu acordava de manhã e não sabia sequer se viver fazia sentido. Pedi ajuda. Tomei um remédio (por um único dia, porque odiei o efeito). Falei muito sobre aquela fase em terapia. Sobrevivi, no fim das contas. Esse blog surgiu da necessidade visceral que eu sentia de fazer as coisas voltarem a ter sentido. E elas voltaram.

Sempre que eu me sinto um pouco para baixo, como estive durante algumas semanas recentemente (pode-se perceber pelas entradas neste mesmíssimo blog, inclusive), eu olho para a Clara que eu era em fevereiro de 2023. Se eu sobrevivi àquilo, eu consigo de novo. Ver que este blog continua sendo uma constante na minha vida me enche de alegria e esperança. Ele é um verdadeiro album de algumas das memórias mais difíceis de um dos períodos mais complexos da minha vida. E por mais que eu seja a minha maior leitora e crítica, me dá uma enorme paz revisitá-lo e lembrar do que eu já superei.

Em breve faço 30, mal posso acreditar. Mas sempre lembrarei da importância dos 28, embora quase ninguém fale deste ano específico em suas vidas.